Qual é o papel da psicologia na luta antirracista?
O que os psicólogos estão fazendo para atuar efetivamente e ter uma escuta ativa referente às demandas que a população negra traz?
É tempo de pensar em um novo tipo de psicologia. Uma psicologia que contemple a todos e paute as diferenças como elas se mostram.
Aquele modelo de psicologia branco, europeu já não é suficiente para abraçar as demandas que a sociedade atual traz.
É preciso começar a descolozinar o pensamento. Há diversos trabalhos de autores negros que pautam a temática racial e nos ajudam a entender as peculiaridades que a raça impõe aos grupos racializados.
O papel do psicólogo é acolher o sofrimento do outro e trabalhar para alcançar o bem-estar.
A resolução 018/2002 norteia como deve ser a atuação do psicólogo em casos de discriminação.
O psicólogo não pode apoiar práticas racistas e mais, deve ir contra qualquer prática de discriminação.
Vivemos em uma sociedade que se reconhece como racista e não há mais como falar que racismo não existe ou que é coisa da sua cabeça (como diversos pacientes já relataram que seus psicólogos lhes disseram).
É preciso reconhecer que o racismo é causador de sofrimento psíquico e que suas consequências afetam gravemente a população negra.

Temos que pensar que o racismo é estrutural e sendo assim, modela as relações tanto institucionais, interpessoais como intrapessoais.
Lidar com uma demanda de racismo é muito mais do que apenas abordar o assunto quando o paciente o traz de forma explícita, mas buscar entender que o racismo também opera de forma inconsciente e muitas vezes invisível.
Por isso é importante buscar leituras que deem base para a prática clínica e formação que dê subsídio para a uma escuta efetiva.
Atendendo a quem sofre com o racismo
Cada vez mais a população negra em geral busca atendimento psicológico e devemos nos questionar se estamos preparados para lidar com as demandas que surgem. Os negros são os que mais são afetados pelo racismo e isso traz diversas consequências ao longo do desenvolvimento.
Sensação de não pertencimento, incapacidade, insegurança e baixa autoestima são alguns dos sintomas que levam pessoas negras a buscarem tratamento psicológico.
E nosso dever enquanto psicólogos é garantir um tratamento psicológico que não gere mais sofrimento.
Ainda são poucas as faculdades que oferecem a disciplina de relações raciais em sua grade obrigatória e isso faz com que os futuros profissionais saiam da graduação sem saber lidar com essas demandas.
É fundamental levar o debate de gênero, raça e classe para dentro das universidades, assim como para dentro dos consultórios.
Pois somos constantemente atravessados por essas categorias.
Qual é o papel do CFP na luta antirracista?
Em 2017 foi lançado pelo Conselho Federal de Psicologia um manual de normas técnicas que embasa a prática do psicólogo a respeito das relações raciais.
Esse manual foi desenvolvido por um grupo de psicólogas que trabalham com a temática racial e aborda tanto a questão histórica do racismo quanto expõe as consequências psicológicas causadas por ele.
O manual é uma ótima ferramenta para começar a entender os efeitos do racismo na subjetividade humana.
Por isso é importante que comecemos a pensar e repensar nossa atuação, desde a graduação, construindo uma psicologia que contemple a todos e acolha todas as particularidades.
Baixe aqui o manual de normas técnicas: relações raciais (https://site.cfp.org.br/publicacao/relacoes-raciais-referencias-tecnicas-para-pratica-dao-psicologao/).
Recomendo que você leia também: https://opsicologoonline.com.br/os-negros-sao-lindos-do-jeito-que-sao/
Gabriel Basilio é negro, tem 21 anos, é morador da periferia do Grajaú em São Paulo, estudante de psicologia na FMU/SP sendo bolsista pelo ProUni. Estuda as relações raciais e como o racismo afeta a população negra. Está desenvolvendo uma iniciação científica sobre Os efeitos psicossociais do racismo no sujeito negro. É administrador da página A Psicologia Contra o Racismo. Participa das reuniões abertas do núcleo de psicologia e relações étnicorraciais do CRP-SP. Foi palestrante no Seminário Estadual de Psicologia e Violências Estruturais: 130 anos de abolição. E também foi representante dos estudantes do sudeste no encontro nacional em Brasília sobre a revisão das diretrizes do curso de psicologia. Gabriel acredita que para eliminar o racismo é preciso falar e debater sobre ele e que só através do conhecimento e da informação é possível superar esse problema atual e social.
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