Puerpério
“Nada transforma a vida de uma mulher como a maternidade.
É o momento de crescer para ver o crescimento.” (Camila Harumi)
A chegada de um bebê é um momento que traz um movimento para toda a família e principalmente para a mãe.
Expectativas, ansiedades, medos, preocupações, dúvidas, culpas, excessos e faltas.
Desde a idealização, do sonho de se ter um filho ou da construção deste desejo, até uma gravidez indesejada ou não planejada, provoca movimentos tectônicos na vida de quem vive este momento.
A mãe, como personagem principal deste momento, passa talvez por seu maior desafio e maiores mudanças de seu pensar, agir, sentir e intuir.
Algumas relatam um aprofundamento da intuição, uma percepção das coisas, das formas, das nuances de ser e estar no mundo de uma maneira mais intensa e sensível.
Puerpério A sociologia aponta a maternidade como uma construção, não a vê como algo intrínseco à mulher, contrária ao “instinto materno” no qual toda mulher tem esta potência.
Na filosofia, vê-se a maternidade como um amor conquistado, construído também.
A psicologia junguiana divide esse olhar para o que é ser mãe entre maternidade e maternagem.
De acordo com a psicologia analítica, a maternidade é uma característica única, feminina de consequências arquetípicas femininas, podendo o arquétipo ser sombrio e de características não maternais e transformar a mulher em uma mãe devoradora, destruidora, com características fortes e invasivas.
Entendemos aqui, de forma simplória, o arquétipo como um modelo de ser mãe e de como este modelo foi construído ao longo dos tempos.
Já a maternagem é vista na psicologia junguiana com um apelo instintivo primordial, podendo existir no homem ou na mulher, com características de cuidados, de servir, de devoção, mas também podendo ter aspectos sombrios.
A maternagem é sempre uma escolha, uma escolha de doação e de servir que nos homens é exercido pelo arquétipo anima, o qual é o lado feminino nos homens.
Maternagem é cuidar e dedicar-se por amor, ser mãe é condição física e nem sempre uma escolha.
Desta forma, nem toda mãe é maternal, ser maternal é daquele que se dedica a grandes causas, preocupa-se com todos os seres.
Puerpério E então, é possível eu não amar meu filho no primeiro momento de vida dele e talvez até demorar em amá-lo?
Aquele que eu desejei e gerei?
Sim, é possível, e você não está sozinha.
Muitas alterações acontecem no corpo e na estrutura psicológica da mulher no puerpério, e são descritas brilhantemente no documentário brasileiro de 2016 “O começo da vida”, na direção de Estela Renner.
Uma dessas alterações é chamada de “Baby blues” que são mudanças emocionais no pós-parto, alternando momentos de muita alegria com momentos de tristeza.
É normal a mãe se sentir assim porque o puerpério é marcado por uma queda de satisfação.
A mulher que antes se encontrava inteira, plena com seu bebê em seu ventre, agora tem que lidar com esta “falta” e nascer também como mãe, assim como seu filho nasceu para o mundo.
É muito comum a baixa da autoestima neste momento do puerpério. São muitos os desafios encontrados pela agora mulher-mãe e muito mais mãe que mulher.
Puerpério Suas necessidades são deixadas de lado em função das necessidades do bebê que agora precisa de seu apoio e cuidados incondicionais e que por essas mudanças psicológicas, nem sempre a mãe é capaz de prover.
As inseguranças que as mães passam no puerpério muitas vezes vêm de acreditar que devem saber fazer tudo, uma cobrança elevada e que sem rede de apoio pode tomar proporções de dores maiores.
A mãe passa por uma brusca mudança de identidade, até então os olhares eram todos voltados para ela e sua barriga, agora o bebê é o protagonista, e a atenção é toda voltada para ele.
É importante ressaltar que o humor do pós-parto é depressivo e a sociedade não lida bem com o que é depressivo.
Em um estado de humor depressivo a mulher não tem aceitação de si e do mundo à sua volta, sua autoestima fica totalmente abalada.
É um processo de amadurecimento da mulher, de transformação, de adaptação de lutos importantes.
Um dos principais lutos é que a mulher deixa de ser filha e torna-se mãe.
Muda a configuração familiar, muda o corpo da mulher, as relações sociais e de trabalho.
É um processo de luto benigno.
Puerpério Diante de tantos desafios e mudanças faz-se necessário também o olhar da mulher para si mesma e da ampliação de redes de apoio.
A união com outras mães, a troca de informações, grupos de ajuda para amamentação e trocas de experiências.
A psicoterapia neste momento também pode auxiliar muito a nova mãe em seu maior desafio e maior construção deste novo amor.
Meu convite hoje é para o movimento e não solidão, peça ajuda, amparo, tenha compaixão com si mesma e confie que é um grande momento de transição e transformação pessoal.
Precisando estou aqui.
Com amor, leveza e alegria,
Suzane Guedes.
Leia também sobre depressão pós parto, sintomas, causas e tratamento: https://opsicologoonline.com.br/depressao-pos-parto/
[captura]
Suzane Guedes é Psicóloga (CRP 05/42766), Especialista em Psicologia e Desenvolvimento Humano e Arteterapeuta Junguiana (AARJ 0853/0118)
Atua nas cidades do Rio de Janeiro e Três Rios-RJ com atendimento clínico à crianças, jovens, adultos e idosos; ministra grupos e oficinas terapêuticas. Também trabalha como orientação psicológica online.
Suzane acredita na psicoterapia como grande ferramenta de auxílio ao desenvolvimento pessoal e social.
Contatos profissionais: (21) 96985-4954
Atendimento online: http://www.atendimento.opsicologoonline.com.br/suzane-guedes
Email: suguedes@yahoo.com.br
Instagram: @olharparas