Os Contos de Fadas
Os Contos de Fadas “São os seus defeitos que fazem de você uma pessoa única.”
A Bela e a Fera
Na abordagem junguiana a meta da terapia é o processo de individuação, recordando-se, mais uma vez, que este é um processo e não um fim.
Logo, pode-se dizer que a meta dos Contos de Fadas também é o processo e individuação, é a aproximação do ser total, do Si-mesmo, do Self, do centro de nossa psique.
Nesses enredos a totalidade é o pano de fundo, e, por vezes, o personagem principal. Cada conto irá abordar uma etapa do nosso caminhar no processo de individuação. Se você acompanha a coluna, deve se lembrar que já mencionei isso em outros artigos.
Leia Também: O Simbolismo da Psicologia Junguiana e os Contos de Fadas
Tornar-se o ser total que somos, ou melhor, quem de fato nós somos, é uma frase bela…na teoria. Na prática nem sempre sentimos desse modo, e os contos estão aí para clarificar isso.
Acompanhando as histórias dos personagens que tanto amamos, observamos e sentimos o quão desafiadoras algumas etapas de vida podem ser. Os Contos de Fadas
Nos últimos dias foi lançado o primeiro teaser da nova adaptação do conto A Bela e a Fera. O vídeo de pouco mais de 1 minuto de duração gerou uma repercussão tremenda.
Nesse conto, somos convidados a conhecer mais da Fera, embora a Bela seja a grande condutora de toda a história. Os Contos de Fadas
Quem já leu esse conto ou assistiu algumas de suas versões para o cinema, deve estar familiarizado com a ideia de que há um pouco de Fera na Bela, assim como há um pouco de Belo na Fera.
Um complementa o outro; um simboliza a parte feminina (anima) e o outro a masculina (animus) que há dentro de nós.
Futuramente, em outro artigo, aprofundaremos mais essa temática. Por agora, o que gostaria de destacar é essa complementação de opostos, é por meio dos opostos que nos aproximamos da totalidade.
A totalidade é representada pelos mais variados símbolos. Em a Bela e a Fera, por exemplo, a rosa vermelha faz esse papel. Os Contos de Fadas
A rosa é um símbolo da transformação! No conto, para reverter a sua maldição, a Fera tem que encontrar uma moça disposta a se casar com ele antes que todas as pétalas da rosa caiam.
De início, a rosa é total, completa, mas passa a perder as suas pétalas, uma, por uma. Igual a ave mitológica Fênix, ela “morre” para depois renascer. Da mesma maneira, alguns aspectos da Fera devem morrer para que possam ressurgir novamente.

A Fera aprende a ter as virtudes de um Príncipe (ou o que se espera de um), não quando é o Príncipe, mas sim quando é a Fera. E eis então o bom complementando o mau e o mau complementando o bom.
Outros símbolos que caracterizam a totalidade podem ser o relógio, o chapéu, o mandala (com “o” mesmo), o redondo, o círculo, a cabeça, entre outros.
Valendo-se do termo criado na adaptação de Tim Burton para Alice no País das Maravilhas, durante o nosso conto da vida acabamos perdendo a nossa “muiteza”.
Nascemos com ela e com sua inocência. Como Peter Pan, Wendy e seus irmãos, conseguimos voar ao pensar somente coisas boas, contudo, no decorrer da vida, essa luz vai diminuindo e, em alguns, até mesmo se apaga.
É na busca pela totalidade que resgatamos a nossa “muiteza”, a nossa inteireza. Os Contos de Fadas
Como diz Jette Bonaventure (2008. p.19), os contos de fadas nada mais são do que “o ser humano se buscando e buscando o sentido de sua vida”.
Ou seja, “ser total” não é ser completo, não é ser por inteiro, e sim é uma jornada incessante por isso. É o tesouro ao final do arco-íris. É olhar para todas as porções de nós mesmos, tanto os aspectos bons quanto os pontos a melhorar.
Semelhante à citação no início deste artigo: “São os seus defeitos que fazem de você uma pessoa única”. É a nossa singularidade dentro da totalidade que nos torna quem de fato nós somos.
Por isso, se fosse possível atingir a totalidade, se o processo de individuação fosse um fim e não um processo, o “felizes para sempre” seria uma pausa eterna em nosso conto pessoal.
Segundo Bonaventure (2008, p.21), “[…] esse final feliz não significa, com certeza, que agora chegaram lá e que não vai haver nunca mais nenhum conflito.
Bem que gostaríamos que fosse assim! Mas, quem sabe se quem é feliz para sempre não é precisamente aquele que aprendeu que a felicidade está na busca […]”.
Leia Também: Jung, o Tempo e os Contos de Fadas!
Então, como está a busca pela sua muiteza? Os Contos de Fadas
Um beijo e uma (re)descoberta,
Juliana.
[thrive_leads id=’498′]
Juliana Ruda – Psicóloga de Orientação Junguiana (CRP 08/18575). Tem Especialização em Psicologia Analítica. Atua na área clínica atendendo jovens e adultos. Ministra cursos, palestras, workshops e grupos de estudos com temas relacionados à Psicologia, Psicologia Junguiana e Contos de Fadas. É uma das colaboradoras da Comissão Temática de Psicologia Clínica do Conselho Regional de Psicologia do Paraná. Além de eterna aventureira dos Contos de Fadas!
Contatos – E-mail: [email protected]
Facebook: https://www.facebook.com/PsicologaJulianaRuda/
Indicação de livro: A Psicanálise dos Contos de Fadas