Tão permanente quanto à morte é o profundo vazio que ela deixa. Quando perdemos alguém que faz parte da nossa vida, o que nos resta é a presença e a dor da ausência.
Todo o processo que envolve o luto e as fases dolorosas e por vezes conturbada que acomete o individuo enlutado, traz marcas difíceis de lidar e por vezes irreparáveis, e esse processo pode se tornar ainda mais complicado quando a morte é, além de tudo, uma decisão ocasionada por aquele que já se foi.
Hoje ainda há uma grande resistência ao falar de suicídio.
Há um tabu e uma grande discussão a cerca do mesmo. Suicídio é um ato de coragem, outros dizem: O suicídio é ato de covardia.
O suicídio nada mais é que um ato de desespero.
O suicida não quer acabar com a vida e sim com a dor que o acomete, acreditando que a morte é a única solução.
Com o tabu que envolve o suicídio, pouco se fala sobre quem sobrevive. O indivíduo que se vai deixa um vazio imenso para seus familiares e amigos e com a dor que fica, fica também o eterno porquê!
Porque ele fez isso? Porque ele não disse que estava mal? Porque não procurou ajuda…
A repentina morte do ente querido, além de uma ferida imensamente dolorida, torna-se um quebra-cabeça composto por vários “porquês”, cuja última peça sempre faltará.
Só a pessoa que morreu poderia explicar, talvez, o que passou naquele triste episódio. Junto a todos esses conflitos, é preciso lidar com práticas religiosas e todos os rituais que envolvem essas crenças.
Por uma questão cultural, o suicídio é uma condenação, por ser o ato de tirar a própria vida.
Os familiares enlutados enfrentam, além da dor da perda por morte, a dor da culpa, da vergonha (pelos fatores religiosos e morais relacionados ao suicídio) e muitas vezes das autoacusações, uma vez que o enlutado nesse caso pode ser levado a pensar que poderia ter agido de alguma forma a modo a evitar o suicídio da pessoa amada.
A desconstrução do luto em decorrência do suicídio são caminhos necessários a se percorrer no objetivo da prevenção do suicídio.
E para isso é de extrema importância dizer aos enlutados: a escolha não foi sua e é possível continuar a viver, apesar de toda essa dor.
É importante ressaltar também que tentar buscar a verdade por trás do ato é agir em vão, já que a verdade se foi com aquele que tirou a própria vida.
E isso não deve ocasionar nem a vergonha, nem a culpa, nem a autoacusação.
Pelo contrário, o enlutado por suicídio precisa de apoio para lidar com suas dores e com todo o processo que o luto os envolve.
Precisamos falar cada vez mais de cuidados para enlutados por suicídio, buscando uma escuta diferenciada e acolhedora. E lembrem-se: É preciso viver o luto para não viver de luto.
Até nosso próximo encontro!
