Se você tem um filho, tem um aluno ou convive mesmo que indiretamente com alguém com Deficiência Intelectual, você pode ter presenciado alguma situação em que este se mostrou agressivo e/ou com comportamento desregulado.
Seja gritando, se agredindo ou agredindo quem está próximo, oferecendo risco pra si e para o outro, neste contexto como se sentiu?
Associou este comportamento diretamente a condição da deficiência?
Relevou e não agiu de forma a tentar amenizar o comportamento?
Ficou assustado e sem saber como agir?
Usou de força física na tentativa de conter o descontrole?
Esse cenário apresentado, eu, enquanto psicóloga e psicopedagoga, já presenciei e escutei os relatos de pais/cuidadores e professores sobre o quanto a agressividade está presente em muitos casos de pessoas com deficiência intelectual.
Mas será que a Agressividade é realmente uma condição ou uma característica de quem tem Deficiência Intelectual?
Eu te respondo que não.
Nos critérios diagnósticos do CID-10 (Código Internacional de Doenças) não está elencado a Agressividade como fator ou sintoma.
Então porque é comum esse comportamento?
Há algumas razões ou possibilidades para que comportamento surja e como é algo adquirido há como se reverter.
Antes acho válido definir o que é a agressividade, pois todos os seres humanos (e inclusive os animais) trazem consigo um impulso agressivo, que garante a sobrevivência e o combustível para as ações.
Sendo assim a agressividade é um comportamento emocional que faz parte da afetividade de todas as pessoas. Portanto, é algo natural e que se manifesta nos primeiros anos de vida.
Como aprendemos a lidar com a nossa agressividade é que vai determinar o comportamento.
Desde cedo notamos as tão temidas “birras” infantis quando a criança começa a internalizar a sensação de frustração, ela se revolta por não ser atendida, ela reage agressivamente.
Porém aos poucos vai compreendendo e superando as negativas, direcionando seu impulso agressivo de uma maneira positiva: argumentando, barganhando ou simplesmente mudando o objetivo já que aquele não foi alcançado.
E o que nos permite esse movimento de evolução é a maturação cognitiva e como os adultos e cuidadores que nos cercam apresentam as ferramentas e métodos em como lidar com os impulsos agressivos.
Agora podemos retomar o contexto da agressividade na Deficiência Intelectual e nos perguntarmos: por que é comum que a agressividade se apresente mais frequente em pessoas com deficiência intelectual?
Vimos que para elaborar os impulsos agressivos precisamos de maturidade cognitiva associadas a orientações externas (adultos e cuidadores), além dos fatores ambientais e sociais.
A pessoa com deficiência intelectual tem o funcionamento cognitivo prejudicado, ou seja, vai enfrentar mais limitações no processo de aprendizado como um todo e isso inclui o controle dos impulsos e regulação de suas emoções.
Porém não significa que todas as pessoas com Deficiência intelectual serão agressivas ou violentas, e sim que o trabalho deverá ser constante e de repetição intensa até que se consiga a interiorização das habilidades sociais, que envolvem o controle dos impulsos agressivos.
Por exemplo, quando corrigimos uma criança de 3 anos que bate no colega de classe ou irmão, porque não quer dividir o brinquedo: nomeamos os sentimentos , validamos que estão com raiva, mas ensinamos que isso não lhe permite machucar o outro e que é preciso outra forma de agir como pedir emprestado, esperar ele terminar de usar ou brincar com outra coisa.
E se isso precisa ser repetido, hipoteticamente, umas 15 vezes para a criança compreender e colocar em prática outra forma de agir, no caso da pessoa com deficiência intelectual essa repetição deverá ser intensificada muitas vezes mais e dependendo do grau da deficiência não há de cessar as intervenções, porque também pode haver comprometimento de memorização.
Outro ponto que pode fazer com que a agressividade se manifeste mais intensamente nas pessoas com deficiência é a superproteção parental.
Ter uma pessoa com deficiência intelectual traz a falsa sensação de que ela não saberá lidar com as dificuldades ou frustrações do cotidiano.
Então vem a culpa em dizer NÃO, colocar limites, entre outras funções paternas, já ouvi essas frases literais :
” Mas como eu vou brigar com ele, ele já tem todos esses problemas tadinho.”
“Ah, mas não adianta falar, ele não vai entender mesmo.”
“Deixo ele fazer o que quiser, ele não sabe ouvir não, e quando ele faz o que quer fica calmo!”
E então diante dessas crenças não se age para a mudança do comportamento e a tendência é que isso se torne cada vez mais um impeditivo de relacionamentos interpessoais, pois a falta de regulação dos comportamentos influencia diretamente na inclusão social.
Quando o quadro está se tornando insustentável, impedindo a convivência social e comunitária, é necessário a intervenção profissional para junto com a família elaborar um plano de ação, seja com os equipamentos que o individuo frequente e se não frequenta propor que o faça, pois quanto maior a exposição social, maior a chance de se aprender e treinar o convívio e controle dos impulsos.
Diante do que foi exposto é importante quebrar esse paradigma da agressividade como sendo algo inerente as pessoas com deficiência, para então possibilitar a intervenção e a diminuição dos preconceitos. Até o próximo artigo!
Leia também: Deficiência intelectual: Como Conviver Com Ela
Priscila Conceição Souza Martins Psicológa – (CRP 06/108485) com pós-graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional, atua na abordagem psicanalítica, possui ampla experiência no atendimento clínico à adolescentes e adultos, promovendo autoconhecimento e saúde emocional. Atua no processo de inclusão social da pessoa com deficiência Intelectual e/ou Múltiplas, sendo com a orientação familiar ou para profissionais da educação: desmistificando os estigmas e preconceitos, auxiliando no manejo com o indivíduo em questão, trabalhando na construção do empoderamento da pessoa com deficiência e sua família.
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