A liberdade e o desconhecido em Pocahontas Arquétipo da Liberdade
Arquétipo da Liberdade “Mas Vovó Willow, qual é o meu caminho?
Como é que eu vou encontrá-lo?”
(Pocahontas, 1995)
Uma das magias dos contos de fadas está em relê-los ou revê-los.
Recordo-me que o conto de Pocahontas era um dos meus preferidos, especialmente pelas músicas repletas de simbolismos presentes na animação desenvolvida pela Disney em 1995.
Reassistindo esse desenho tive novas percepções e reflexões.
Como coloca Estés (2005) independente da idade, ao reler um conto, cada pessoa encontrará um significado diferente.
Complemento esse pensamento dizendo que, o simbolismo que vibra é aquele que mais tem a ver com o momento de vida de cada um.
Em Pocahontas o arquétipo da liberdade e o arquétipo do desconhecido são muito presentes.
Um interliga-se ao outro. Para sermos livres precisamos ter coragem de desbravar o novo, o desconhecido.
Recomendo que leia também: O Arquétipo do Herói Nos Contos de Fadas: Uma Visão Junguiana
Os outros personagens definem a protagonista do conto como sendo parecida com o vento, uma vez que sempre está correndo pela mata em busca da fluidez da vida.
Não podemos controlar o vento e sim senti-lo. Arquétipo da Liberdade
Parafraseando Clarice Lispector, Pocahontas é tanto leve como uma brisa quanto forte como uma ventania.
Ela esbanja coragem, sensatez e perspicácia. Ela é uma verdadeira exploradora e mediadora.
No seu caminhar a personagem encontra John Smith, também um explorador de novos mundos.
Pocahontas e John são opostos.
Ambos vêm de culturas diferentes e encaram a vida também de forma diferente, embora, tenham em comum a curiosidade pelo novo e a busca pela liberdade.
É justamente por serem opostos que eles se complementam, pois se permitem aprender um com o outro.
Essa complementação de opostos caracteriza o que chamamos na Psicologia Junguiana de totalidade.
Entre os dois há uma união dos opostos.
John a chama de selvagem, contudo, ela responde que para ele “ser selvagem” é o que é diferente dele.

Demonstrando, assim, que tudo é uma questão de ponto de vista.
Arquétipo da Liberdade Pocahontas é muito mais que um conto sobre amor, Pocahontas é um conto sobre descobertas, sobre saber olhar para o inconsciente, aproximando-se dele, sobre aprender com os sonhos e os simbolismos que esses carregam.
Em um dos seus encontros com a Árvore Vovó Willow, a índia heroína relata um mesmo sonho que tem tido, nesse sonho, ela está correndo pela mata quando se depara com uma flecha que começa a girar e girar, até que, de repente, para.
Antes de prosseguirmos falando sobre o sonho, é interessante evidenciar o simbolismo da árvore.
As árvores são elementos presentes em muitos contos de fadas. Arquétipo da Liberdade
Segundo Jung (2011, OC, XIII; §350), a árvore geralmente é associada ao “crescimento, a vida, o desdobramento da forma sob o ponto de vista físico e espiritual, o desenvolvimento, o crescimento de baixo para cima e vice-versa, o aspecto materno […], idade, personalidade e finalmente morte e renascimento”.
Arquétipo da Liberdade Vovó Willow representa o arquétipo materno para a protagonista, ela a acolhe e a orienta.
Quando se comunica com Pocahontas a Árvore lhe chama de “criança”, caracterizando, desse modo, o carinho, o afeto e a postura maternal.
Compreendido isso, voltemos ao diálogo entre Pocahontas e Vovó Willow.
Esta última menciona que a flecha está apontando o caminho da garota. E o mesmo acontece conosco repetidas vezes durante nossa vida.
Nós temos em nossas mãos a bússola que rege o nosso conto de vida, mas, nem sempre, sabemos ao certo qual direção queremos seguir ou se a flecha realmente está apontando para a direção correta.
Quantas vezes caminhamos rumo ao Norte, querendo, na realidade, ir para o Sul?
A bússola é redonda, e o círculo, o redondo, são símbolos do Self (totalidade).
Esse objeto representa mais um passo que Pocahontas deve dar no seu processo de individuação.
A escolha do caminho é bastante enfatizada nesse conto, por exemplo: Pocahontas tem que escolher casar-se ou não com Kokowan, o índio guerreiro de sua tribo; ela tem que escolher enfrentar ou não seu pai, chefe da tribo, ao que diz respeito ao destino de John Smith; ela também tem que escolher se ficará com o seu povo ou se irá com John para a Inglaterra. Arquétipo da Liberdade
Arquétipo da Liberdade E escolher envolve tanto o consciente, a racionalidade, quanto o inconsciente, e as mais vastas emoções.
Escolher envolve aventurar-se no desconhecido e abraçar a liberdade.
Como canta a personagem: “Lá na curva o que é que vem? Quero saber!”.
Os homens brancos chegam ao novo mundo à procura de ouro.
Quando John menciona isso a Pocahontas, ela diz que em sua terra há muito ouro, mostrando-lhe um milho. Arquétipo da Liberdade
Novamente, aqui, tudo depende do ponto de vista.
Na alquimia, o ouro é o metal mais nobre, é a meta, aquilo que se busca atingir.
Mas para chegar-se, de fato, ao ouro, são necessárias transformações. Arquétipo
Talvez a maior transformação de Pocahontas é escutar a voz do seu coração, como orienta Vovó Willow.
É, além disso, apreciar as riquezas que estão ao seu redor, atentando-se a sombra coletiva que está ali presente.
Na Psicologia Analítica, o conceito de sombra refere-se aquele lado escuro, escondido, da psique; aquilo que o indivíduo desconhece (FRANZ, 2003).
A sombra coletiva observada nesse conto é a projeção que tanto os nativos quanto os homens brancos fazem um do outro.
A sombra não é de todo ruim, ela é essencial para nos darmos conta dos outros aspectos que também fazem parte de nós.
Mas, quando negada, a sombra pode nos cegar.
O que cega os homens brancos é a ganância pelo ouro.
Já o que cega a tribo de Pocahontas é a tentativa de defender as suas terras, o seu espaço, já que se sentem invadidos.
Ou seja, nesse conto de fadas, bem como em tantos outros, deparamo-nos com o dia a dia do ser humano, com o reflexo do homem.
Arquétipo da Liberdade Pocahontas espelha a dificuldade que temos em aceitar o certo e o errado do outro, a dificuldade que temos em aceitar o outro, e, ainda, a dificuldade que temos em aceitar a nós mesmos.
Isso porque, aceitar a nós mesmos, envolve explorar todas as porções que há em nós, tanto interna como externamente.
Envolve, portanto, mergulhar no desconhecido.
E esse desconhecido, é claro, causa frio na barriga, mas, como Pocahontas, devemos ouvir a voz do nosso coração, da nossa psique, da nossa alma e “com as cores do vento colorir”.
Um beijo e uma (re)descoberta, Arquétipo da Liberdade
Juliana.
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Juliana Ruda – Psicóloga de Orientação Junguiana (CRP 08/18575).
Tem Especialização em Psicologia Analítica.
Atua na área clínica atendendo jovens e adultos.
Ministra cursos, palestras, workshops e grupos de estudos com temas relacionados à Psicologia, Psicologia Junguiana e Contos de Fadas.
É uma das colaboradoras da Comissão Temática de Psicologia Clínica do Conselho Regional de Psicologia do Paraná.
Além de eterna aventureira dos Contos de Fadas!
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