Psicologia Junguiana e os Contos de Fadas
As melhores e as mais lindas coisas do mundo não se podem ver nem tocar. Elas devem ser sentidas Psicologia Junguiana e os Contos de Fadas com o coração.
Charles Chaplin
Em outro artigo aqui na coluna já mencionei que os Contos de Fadas podem ser estudados e interpretados por diferentes áreas, dentre elas a Psicologia.
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É importante, desse modo, destacar que a Psicologia possui diferentes abordagens, ou como chamamos também, teorias. Psicologia Junguiana e os Contos de Fadas
Cada estudioso de cada abordagem irá aprofundar e compreender a psique humana de uma maneira.
E o mesmo acontece com os Contos de Fadas. Quando se pensa na interpretação dos Contos de Fadas pela Psicologia, algumas pessoas, instantaneamente, associam à Psicanálise e ao autor Bruno Bettelheim.
Concordo que as colocações de Bettelheim são incríveis e muito enriquecedoras, contudo, a Psicologia Junguiana também possui uma série de estudos frente a essas histórias atemporais.
Duas analistas junguianas e autoras que desenvolveram trabalhos com os contos são Marie-Louise Von Franz e Verena Kast. Psicologia Junguiana e os Contos de Fadas
Ao ler qualquer livro dessas escritoras somos convidados não somente a viajar pelo universo dos Contos de Fadas, como pelo mundo dos simbolismos.
Recordam-se que a Psicologia Junguiana preza muito pelo simbólico? Pois bem, a interpretação desses enredos também tem apreço pelos símbolos. Afinal, o que mais encontramos nos Contos de Fadas são referências a esse simbólico, seja por meio de objetos mágicos ou seus personagens.
Antes de prosseguirmos é interessante entendermos qual é a definição do símbolo para a Psicologia Analítica (Junguiana). De acordo com Bachofen (apud JACOBI, 1957, p.75):
O símbolo evoca a intuição; a linguagem sabe apenas explicar…O símbolo estende as suas raízes até o fundo mais recôndito da alma; a linguagem roça, como uma brisa leve, a superfície da compreensão…Só o símbolo consegue unir o mais diversificado no sentido de uma única impressão global…As palavras fazem o infinito finito, os símbolos arrebatam o espírito para além dos limites do finito e mortal até o reino do ser infinito. Eles estimulam intuições, são signos do inefável, inesgotáveis como estes…
Ou seja, o simbólico causa encantamento, justamente por, pelo viés junguiano, não ser apenas isso ou aquilo, mas sim isso e aquilo, e aquilo outro e aquilo outro. Psicologia Junguiana e os Contos de Fadas
É sempre uma adição e não uma oposição. O simbolismo envolve muito o sentir, o significado que determinado objeto, por exemplo, terá para mim e para você.
Por mais que pareça ter o mesmo significado o sentir é diferente. O símbolo carrega consigo o inesgotável, uma múltipla variável de sentido. Por isso que ao ler um Conto de Fadas você pode se maravilhar com determinado personagem e o seu amigo com outro.
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Psicologia Junguiana e os Contos de Fadas
Lembro-me muito de quando lançou o filme Malévola. Esta é minha vilã preferida, para outros a personagem não é vista como vilã é sim como uma fada. Psicologia Junguiana e os Contos de Fadas
Alguns colegas da área comentaram o quanto gostaram da película e da maneira como foi explorado o amor, não sendo mais enfocado o amor de casal, mas sim o amor em suas mais diferentes vertentes.
Já o que me chamou a atenção não foi a temática amor, pelo contrário, foi a ideia transmitida ao fim da história, de que todos nós temos um pouco de herói e um pouco de vilão em nosso interior. Psicologia Junguiana e os Contos de Fadas
Outra colega ainda afirmou que não gostou muito do filme, definindo-o como “água com açúcar”. Nessas análises e interpretações está presente o simbólico, aquilo que desperta o afeto em cada um de nós. Para mim foi a reflexão final, para outros o amor e assim por diante.
Bom, deve estar ficando claro que para a Psicologia Junguiana os simbolismos dos Contos de Fadas, assim como dos sonhos, terão um vasto nexo de sentido, nunca sendo apenas uma coisa, nunca tendo apenas uma direção e um significado.
Ao analisar um conto por essa perspectiva é importante ter conhecimento de outras culturas, outras religiões, outros costumes, etc. Psicologia Junguiana e os Contos de Fadas
Pensando no conto A Roupa Nova do Imperador, já comentado aqui na coluna, o simbolismo das roupas pode ser entendido tanto como proteção, aparência, como uma “máscara” para esconder nosso verdadeiro eu, ou ainda pensando “nos cultos os mistérios na Antiguidade e nos ritos de iniciação de muitas civilizações, vemos que as pessoas vestiam roupas não apenas para representar a persona, mas para expressar uma atitude” (FRANZ, 2003. p.31-32).
O espelho, por exemplo, é outro objeto simbólico presente em muitos contos e mitos, como Branca de Neve, A Bela e a Fera e o Mito de Narciso. Embora, neste último, o espelho seja representado pelo reflexo de Narciso na água.
Em algumas culturas fala-se a respeito dos espelhos e suas propriedades mágicas, algumas cogitam até mesmo a possibilidade desse objeto ser um portal para outros mundos. Psicologia Junguiana e os Contos de Fadas
Contudo, pode-se entender também que esse objeto reflete quem nós somos, bem como aquilo que imaginamos ser. Podemos ver nosso verdadeiro eu em alguns casos e, em outros, uma distorção de nós e do todo a nossa volta.
O que não falta nos Contos de Fadas e, claro, no nosso dia a dia, são símbolos. Eles nos conectam com nós mesmos e com os outros. Psicologia Junguiana e os Contos de Fadas
É através do simbólico que podemos fazer analogias e utilizar metáforas para explicar aquilo que parece inexplicável e até mesmo difícil de colocar em palavras.
Os simbolismos dos Contos de Fadas são verdadeiras metáforas para a vida humana, as quais, como disse Chaplin “devem ser sentidas com o coração”.
Um beijo e uma (re)descoberta, Psicologia Junguiana e os Contos de Fadas
Juliana.
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Juliana Ruda – Psicóloga de Orientação Junguiana (CRP 08/18575). Tem Especialização em Psicologia Analítica. Atua na área clínica atendendo jovens e adultos. Ministra cursos, palestras, workshops e grupos de estudos com temas relacionados à Psicologia, Psicologia Junguiana e Contos de Fadas. É uma das colaboradoras da Comissão Temática de Psicologia Clínica do Conselho Regional de Psicologia do Paraná. Além de eterna aventureira dos Contos de Fadas!
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